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Pensar com filmes: "Vermelho como o céu"





               http://www.youtube.com/embed/yvd9R30hNqk
  

O realizador do filme Vermelho como o céu baseou-se  na vida de um conhecido sonoplasta italiano, Mirco Menacacci,  para relatar a história de um rapaz que devido a um acidente doméstico ficou com a visão gravemente afetada, até cegar por completo. O quotidiano do rapaz sofreu uma modificação a todos os níveis. No contexto histórico e social em que o filme decorre, Itália na década de 70, os seus médicos vêem-se obrigados, de acordo com as normas vigentes, a indicar que Mirco fosse transferido para uma “escola especial” destinada a deficientes visuais, pois nesta época, em Itália, as crianças cegas eram segregadas e não podiam frequentar as escolas "normais". Sem alternativas, os pais sentem-se forçados a interná-lo numa instituição para cegos, em Génova. 

Parece-nos que a situação retratada neste filme pode ser analisada à luz da afirmação de Ádám Kósa: “A minha deficiência não me limita, a sociedade sim.”


Quando Mirco perdeu o sentido da visão, passou por um período de intensas dificuldades, não só porque deixara de ver, como porque o seu meio ambiente mudou de modo radical. No filme expressa-se bem o contraste entre  a natureza quente e colorida da primavera nos campos em que Mirco vivia com os pais com o clima frio e as paredes cinzentas da instituição para a qual foi transferido.



No entanto, esta fase mais difícil foi superada quando Mirco teve que  fazer um trabalho sobre  as estações do ano e aprendeu a percecionar a natureza de outra forma, através dos sons e do tato. Nesta etapa de adaptação em que se encontrava, um velho gravador foi o instrumento que  abriu novos horizontes ao florescimento da sua imaginação e criatividade. Para além deste fator, Mirco conheceu a filha de uma funcionária da escola, que foi de uma importância crucial porque o ajudou na criação das suas histórias com sons. Gradualmente, deu-se o envolvimento de outros colegas da instituição. Contudo, estas práticas não eram permitidas pela direção da escola. Juntos, e contando com a ajuda do professor,  o grupo de rapazes conseguiu superar os condicionamentos impostos pelos métodos rígidos do diretor, e passaram a ensaiar a apresentação da história da sua autoria e que viria substituir a representação bíblica tradicionalmente apresentada na récita de encerramento do ano letivo.



As experiências de Mirco eram contrárias às práticas pedagógicas  uniformizadoras preconizadas pelo diretor do Instituto Cassoni, que pretendia ensinar técnicas para que os rapazes se tornassem uma mão-de-obra qualificada para o mercado industrial emergente. Todavia, Mirco não só experimentou novos métodos como também motivou os seus pares para a descoberta de novas sensações.  Através dos sons, aprenderam a descrever e reconhecer o clima, o tempo, histórias, ambientes, sentimentos etc. Os alunos deram ao cinema um novo significado, que fica claro quando foram todos ver um filme - às escondidas do diretor -  e apesar de, em determinado momento, confundirem as vozes das demais pessoas na plateia com as dos personagens do filme, não deixaram de se divertir através da audição. A narrativa desenvolve-se até ao clímax da história em que se dá o confronto entre as novas pesquisas destas crianças com as antigas práticas pedagógicas da instituição em que estavam inseridos.  Os alunos deixam de ser classificados como um grupo homogéneo de “crianças cegas” para serem considerados  simplesmente “crianças”, como realça o personagem do professor em determinado momento ao discutir com o diretor da escola.



Na inovadora festa de encerramento do ano letivo, os pais tiveram que vendar os seus olhos para assistir à representação dos seus filhos. Esta cena incentiva-nos a desenvolver uma abordagem diferente sobre a realidade que nos cerca, valorizando os nossos outros sentidos.



 Vermelho Como o Céu tem uma brilhante realização e edição fotográfica e acima de tudo uma envolvente e emocionante narrativa. Além destas qualidades enquanto produto cinematográfico, o filme pode ser utilizado com um excelente instrumento pedagógico como ponto de partida  para um debate sobre  inclusão, estereótipos e preconceitos.



Ficha técnica

Titulo original: Rosso come il cielo
Direção: Cristiano Bortone
Ano (2006)
Duração. 95 minutos
Guião: Paolo Sassanelli, Cristiano Bortone E Monica Zapelli
Atores principais: Francesco Campobasso, Luca Capriotti, Simone Colombari, Marco Cocci, Andrea Gussoni, Patrizia La Fonte.



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